domingo, 15 de agosto de 2010

NAUFRÁGIOS E COMENTÁRIOS


Álvar Nuñes lendário Cabeza de Vaca foi mais que um lendário desbravador espanhol, que passou de personagem histórico á “símbolo” desde as matas até sua volta a Espanha. A serviço de sua majestade, o Rei da Espanha, e com grande obediência á Deus De Vaca, aventura-se rumo ao desconhecido que irá mudar para sempre sua “visão”, um homem que vive a vida como “ aos olhos de Deus” querendo seguir a ideologia do Santo São Francisco.
Cabeza de Vaca vê nos momentos que passou em meio a naufrágios onde conviveu com índios canibais, plantas venenosas, malária, fome e sede a perda de uma oportunidade ímpar, que era a preservação desta cultura destruída que nos pesa hoje a consciência. Hoje sabemos o peso dessas conseqüências tomadas naquele contexto. Sendo assim em meio a mata um homem cristão destituído de tudo, na forma plena da palavra realmente nú e em situações desfavoráveis , carrega com sigo o lema que diz; “ ensinarei o homem a conquistar pela bondade e não pela matança”.
De Vaca por meio de seus protestos conseguiu acabar temporariamente com as bárbaras capturas de escravos e índios naquela região (Assunção) eternizando sua frase citada anteriormente. Mas a intenção de bondade não se concretiza, pois sabe-se que esta” bondade” não depende somente dele mas é visível que Cabeza fez a sua parte.
É notável que há o abandono de pensamento europeu (ideologias europeias) que naquele contexto era imposto o domínio pela força o impor pela tirania (punhal). Aqui se invertia os pólos passava a encarar antigos companheiros e costumes que antes também pertenciam a ele (Cabeza) “ o homem que eu era contra o homem que sou hoje”.
De Vaca é citado realizando curas em “ Naufrágios e Comentários” que são comparadas a práticas de xamãs (que são sacerdotes mestres ou curandeiros) que por vezes o motivo pode ser a imaginação inflamada do povo local . Um texto por vezes religioso e obediente nas palavras de De Vaca, que sempre operava em nome de Deus e da Majestade.
Este destemido sobrevivente, muito apegado a Deus, passa uma visão de arrependimento pelo que já se fez. Sugere que Jesus e outros Santos jamais teriam o que aprender com o homem e que por esses motivos se voltaria a essa essência da simplicidade e a natureza que não tem mau nenhum a apresentar ao homem. As palavras de Álvar nos fazem refletir e identificar fatos do cotidiano e ver que muita coisa não mudou de lá para cá e que o “caminho” todos estamos cansados de saber de có mas a tendência que predomina é “o mais do mesmo”.
Referência ao governo que com suas promessas vazias encontram adeptos, vazios igualmente que se identificam com as mesmas. Este aventureiro De Vaca só retorna a sua morada já aos 45 anos de uma fracassada expedição da florida e com ele três sobreviventes que se manterão vivos á três anos de combates indígenas , escravidões e naufrágios .
Este livro que é um grande relato e muito rico em detalhes que não será explicado em uma simples resenha. Seu conteúdo vai muito alem do que podemos ver e imaginar . A riqueza é tão extensa que tiveram nessas aventuras contatos com tribos Seux á Zuni quero dizer mais de 20 tribos diferentes, sempre interagindo e aprendendo línguas novas. Em momentos de partidas para outras tribos os índios já acostumados com seu jeito hospitaleiro demonstravam o mais singelo sentimento por meio de lágrimas pela dor da partida destes conquistadores que não somente conquistavam a terra mas seus habitantes. Cabeza viu a diversidade de tantas tribos existentes que jamais saberíamos de suas existências se não fosse este livro que é mais que um relato de naufrágio, tão detalhista que parece mais um “diário”.
O livro Naufrágios e Comentários é uma verdadeira aula. Traz uma visão única e verdadeira que consegue mexer com nossos sentimentos, nos transportando diretamente para esta viagem relatada em suas páginas. Nos 18 mil quilómetros que foram percorridos por De Vaca só torna-se pequeno se comparado as riquezas encontradas em meio a essa cultura.
O contexto tornava possível a perda e o ganho rápido de cargos, pois nessa selva ocorria vários acontecimentos como a morte dos comandantes que com eles vieram na viagem, “uma hora você manda outra hora tende a obedecer, e quando você olha pro lado é cada um por si em defesa do que é melhor para sua própria vida.
De Vaca não só aprendeu muitas coisas nesta viagem, mas também mudou costumes dessa gente, muitas vezes pregando a paz em nome de Deus e promovendo a união por vezes acabando com maus costumes (saques) e canibalismos por meio do convencimento sem uso da força.
Os índios por vezes não entendiam a intenção enrustida de colonizar pela fé e o bom trato presente em cada novo encontro, sempre aparente em cada convite a ser “cristão” que era oferecido em troca de proteção e paz nas aldeias.
O livro muitas vezes cita a beleza por ele mesmo, em trechos que diz que era bonito de se ver os índios ornamentados com plumas como se fossem para uma guerra. Álvar tinha com esses índios sempre um contado cuidadoso para que não se sentissem ofendidos,um grande respeito pois temiam o mau trato do branco que era muito presente pelas mãos dos que não entendiam a beleza do “outro”. Muitas vezes quando o índio era conquistado não queriam separar-se mais, da presença do espanhol curandeiro e bondoso.
Álvar tem por registrado sua passagem também aqui no Brasil. Sendo o primeiro branco a contemplar a visão da Foz do Iguaçu que tem uma placa de bronze com seus dados, em uma grande homenagem. Nem sempre se conseguiu ter a amizade dos nativos, pois alguns não a queriam e por muitas vezes a guerra se tornava presente neste contexto. Situações balanceadas, pois em alguns momentos se via a descontração das tribos que já se mostravam acostumadas com a presença do espanhol, que para nós que aqui lemos este livro, temos um conhecimento diversificado e entendemos o objetivo do governador que queria o índio como vassalo por meio da fé e cortesia de “presentes” dados a eles.
Relata-se também que já construíam igrejas em meio as matas, ficando visível a ascensão do cristianismo subversivo obrigatório imposto aos nativos.
Esta obra é rica por excelência, por isso não é possível abordar tudo que o ela transmite, que somente os corações mais duros não entendem as mensagens que nesta obra são apresentadas. Uma visão onde se mistura o fascinante o imprevisível a tirania e a angustia ,que são vividos de forma ávida e intensa por quem se debruça sobre este maravilhoso tesouro deixado por Cabeza de Vaca. Um desbravador que tentou apagar a imagem sangrenta deixada por esses antepassados, tão distante e ao mesmo tempo tão presentes de formas modificadas, mas com o verme da soberba impregnado neste DNA o homem de hoje que nada aprendeu com seu passado.

2 comentários:

  1. REALMENTE UM ÓTIMO LIVRO,UM DOS MELHORES.FOI DE LÁ QUE SAIU O SEGUINTE COMETÁRIO DA APRESENTAÇÃO DA AULA. " RAPADURA É DOCE MAS NÃO É MOLE NÃO".

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  2. kkkk... tinha que ser você... tinha!!!

    Sem contar tantas outras pérolas que sairam dessa boca naquele dia.

    huahauhauhuaaaa...

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